sábado, 14 de novembro de 2009

Foi Nesse Natal Antigo

Nesse dia eu quero amar e ser amado, compreender e ser compreendido, perdoar e ser perdoado...
Louvor
O Natal naquele ano que ainda guardo na memória, mas a história talvez não registre; ocorreu de forma tão ideal, que chego a duvidar de minha memória. Por outro lado, minha imaginação não conseguiria compor um quadro assim.
Era véspera de natal. A cidade se agitava com o povo comprando, indo, vindo, providenciando dinheiro, tomando empréstimos; angustiando-se uns, alegrando-se outros e, mais além, atrás dos balcões, a expectativa de grandes vendas.
Natal sem novidades. Mensagens de Boas Festas, telegramas insípidos. Indiferença entre os homens.
A partir de um dado instante que não sei precisar bem, mas posso garantir que era dia, talvez no pôr do Sol. Alguma coisa aconteceu!... Não, não foi um fenômeno instantâneo. Iniciou-se em dado momento, mas evoluiu, intensificou-se até expressar-se em sua plenitude. E isso levou algum tempo. Esse tempo foi o de um entardecer com o sol acima do horizonte, envolveu maravilhoso por de sol de verão com nuvens coloridas fulgurantes adornando a imensidã; até quando a estrela papa-ceia já brilhava intensamente no céu para enfeitar a noite que se iniciara.

Foi como se imensa e impalpável nuvem de sutil e benfazeja vibração, de repente, descesse e envolvesse os homens, os animais, as ruas, as casas, tudo.
Talvez, advinda de Deus, vagasse há milênios no espaço com a determinação de naquele dia, naquela noite, descer sobre um povo.
Aquele pedaço de mundo se transformou.
Os altíssimos caminharam para o povo; os marginalizados, os mais humildes, todas as camadas rumaram para uma mesma posição. E houve igualdade com respeito mútuo, tolerância, concessões.
A emanação divina, no seu envolvimento, libertou as mentes de todos aqueles sentimentos que infelicitam e dividem os homens. Puderam então o amor, a compreensão, a solidariedade e a alegria se expressar na plenitude de suas potencialidades.
E todos foram felizes nesse estado de alma.
Um carro parou, alguém desceu e amparou o velho trôpego que tentava galgar os degraus de uma escada; medicou uma que gemia sua dores, recolheu outro que jazia estirado à beira de um passeio e, seguiu semeando boas ações.
Na esquina adiante, dois que discutiam por causa de uma batida de carros, pararam em dado momento, olharam-se espantados, sorriram, trocaram um abraço e notaram que brigavam por pouco mais que nada.

Alguém bateu à minha porta pedindo comida. Eram cinco crianças maltrapilhas e sujas. Ao invés de incomodar-me o aspecto, encantaram-me as expressões das faces infantis. Convidadas para jantar, entraram, comeram com alegria e saiam agradecidas; então perguntamos pelos seus pais.
- Meu pai anda doente há muito tempo, não trabalha; minha mãe só faz serviços pesados e ganha muito pouco.
-Convidai-os também. Além de comerem podemos tentar ajudá-los de outras formas.
Depois daqueles vieram outros e nós os recebemos com alegria.
Quando os alimentos estavam prestes a se acabar, os vizinhos vieram e trouxeram mais comida, mais alegria, mais amor e dividiram conosco e com nossos convidados.
Os que davam e os que recebiam se tratavam com amizade, simpatia e igualdade.


Em tudo se percebia o toque divino.
A esperança renasceu nos homens.
Logo adiante, um mendigo repartiu seu pão. Um Cego permitiu que outro compartilhasse com ele seu ponto à porta de uma igreja.

E muitos chegavam para orar.
Mas ninguém orou antes de perdoar.
Inimigos de morte dialogaram, compreenderam-se, pediram desculpas, perdoaram, trocaram abraço fraterno e sincero.
E quanto ódio se desfez naquele dia.
Nos presídios houve arrependimentos, reconsideração, compreensão para com a sociedade. A sociedade fez-se presente libertando injustiçados, desfazendo enganos, humanizando presídios, adequando penas, conscientizando, dando oportunidades, reconciliando. Falando de uma justiça mais perfeita que a dos homens.


E quanta revolta morreu naquele dia.
O amor, a resignação, a bondade e a esperança saíram a visitar hospitais, asilos, orfanatos e percorreram também os lares.
A insegurança saiu dos homens e com ela a desconfiança. Ninguém foi avaro ao dar nem egoísta ao receber.
Reconciliados, felizes e cansados os homens foram dormir cedo. Os cultos ficaram para a manhã seguinte. Dormiam o sono dos justos e precisavam repousar.
Um ser celestial passou na madrugada e distribuiu bênçãos.
Feliz Natal!... Sem lágrimas, incompreensões, rancores, fome, temores.
E quanta paz nasceu naquela noite!...

Rilmar(1981)


(Brasil Acadêmico, Ipameri Raizes Culturais, Artigonal)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

A Morte do Poeta - por Rilmar

Ontem morreu um poeta!...
De causa quase desconhecida.
Morreu após um momento de profunda reflexão.

Morreu, não de todo. Os olhos ainda se alongam em direção ao horizonte; as mãos finas e um tanto esquálidas ainda comprimem outras mãos sem, no entanto, transmitir qualquer sentimento. No peito um coração descompassado e isquêmico ainda se esforça para injetar vida num corpo sem alma.
Uma alma que de tanto se apertar dentro de um peito sofrido, de tanto curtir solidão, de tanta desesperança, de tanto olhar tristemente um torno de si; não se conteve: Recolheu-se num recôndito do interior do poeta e rompeu para sempre o seu compromisso com a vida.
Ali vai o poeta sem alma.
Perambula apenas, não passeia.
Embora milhões de reações metabólicas ainda aconteçam energizando seu corpo, não há mais uma alma que sinta, que viva e transmita sentimentos.
Ontem, um poeta desanimado e só, voluntariamente abriu mão da vida. Pensa, portanto existe, mas, não degusta, não sofre, nada sente. Tornou-se impermeável ao mundo.
Acicatado não move um só músculo; achincalhado não ouve; humilhado permanece incólume e com o mesmo porte sereno; ignorado, apenas segue usufruindo a condição de poder vagar despercebido .
Sem alma, sem sonho, sem ilusão; ainda assim: poeta.
Sem norte e sem horizonte vagueia, não no mundo; permeia o universo.
Ali vai o poeta que ontem morreu...
(1990)


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segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Democracia nas Escolas Será Tão Bom Assim?

Por Rilmar J.Gomes
Têm acontecido tantas mudanças na nossa sociedade que, pelo sim pelo não, sinto-me instado a me manifestar e a convidar outras pessoas que se manifestem pois há que se discutir e tentar entender as conjunturas presentes.

Vou me atrever a comentar o tema escola embora como livre pensador e, não , como técnico no assunto.
Democracia na escola : Vejo como improdutiva, desautorizadora, desestabilizadora, deficiente nos critérios de escolha por qualidades técnicas e por competência em dirigir as escolas para seus objetivos precípuos de orientação, disciplina, qualidade de ensino, ordem, respeito, dignificação dos professores e conscientização dos alunos para necessidade de se enquadrarem num conjunto de normas que visam prepará-los como cidadãos, visam provê-los de conhecimentos que serão hauridos pelos ensinamentos dados pela escola, buscados nos livros e no exercício orientado e constante das tarefas planejadas e passadas a eles.
Torna-se demagógica, gera um desrespeito do aluno para com o mestre que nunca pode contrariar o aluno e fica refém da inconveniência de confrontar o discípulo e ter que se explicar ao diretor porque isto gera impopularidade. Impopularidade gera perda de votos na próxima eleição!...
O confronto advêm de situações corriqueira como não ter feito os deveres, ter copiado o trabalho de outro, não ter estudado para a prova, manter comportamentos inconvenientes em sala de aula ou no interior do colégio, ou mesmo ter atitudes inadequadas na rua usando o uniforme do colégio. O próprio trajeto entre a casa e o colégio e do colégio para casa pode, com algum ganho , em parte ser direito do colégio supervisioná-lo, para o que é preciso que haja uma hierarquia e instrumentos que dêem ao colégio e professores poderes de discipliná-lo.
Um diretor deve ser, a meu ver, nomeado pela competência, por notório saber, pela capacidade administrativa, pela capacitação específica para a atividade, por ter um ideal de levar a escola ao melhor desempenho possível de seus objetivos de ensino, educação, conscientização, socialização, descoberta das potencialidades de cada um e de respeito aos mestres e a cada membro da escola que no conjunto propicia o prepara do aluno.
As melhores cabeças de um povo deveriam, ao menos, ter porque pensar na escolha de serem professores. Condições mínimas seriam : respeito, status, remuneração, dignidade, condição de trabalho incluindo secretárias para as tarefas braçais como preenchimento de diários, extensos relatórios; programas de computadores facilitando os controles necessários, incentivo à reciclagem permanente, incentivo à dedicação exclusiva, mas com canal para aproveitamento de profissionais como engenheiros, médicos, agrônomos, químicos, economistas, administradores de empresas , etc.
Dentro de tudo isso eu acrescentaria a necessidade de conselhos internos, analisadores críticos do desempenho da escola e de seus membros.
Por setores e no conjunto.
Ao aluno com baixo rendimento deveria ser dado o direito de repetir o ano e, não, ser passado através de inócuos trabalhos, muitas vezes feitos por terceiros e galgado a uma nova série onde, pela falta de pré-requisitos nunca vai conseguir haurir conhecimentos e vai somando incapacidades a tudo que lhe é ensinado.
Acaba se tornando uma grande bola de neve coberta de um verniz que esconde tudo o que não sabe debaixo de um fingido e torturante saber que se vê obrigado a ostentar pela vida a fora , com prejuízo para si e para a sociedade. Repetir um ano com uma nova consciência é antes uma oportunidade, um direito, uma atitude inteligente, uma forma de se preparar adequadamente; do que uma desonra ou um castigo.
Pode perfeitamente ser uma opção, uma retomada de rumos.
Reparem que os colégios disciplinadores e de ensino forte, que ensinam a estudar, fazer exercícios, repousar, meditar, ser disciplinado, ter atitudes, cuidar dos uniformes, respeitar os colegas e mestres, ter autocontrole , etc . Têm uma procura tão grande que se vêem obrigados a estabelecer rígidas seleções para admitirem alunos.
Quem sabe; nessa busca de excelência possamos reestruturar a própria sociedade.
Discussão em aberto... Rilmar

Publicado em: Blog Brasil Acadêmico, Artigonal, Ipameri Raizes Culturais